Pergunta: Um candidato ao ministério, submetido a uma prova de Teologia, não soube responder o que era união hipostática. Não sou o candidato, mas soube, fiquei intrigado, e pergunto: O que significa união hipostática? Para ser pastor é preciso saber isso? Jesus sabia?
Resposta:
A questão é pertinente, já que se tratava de uma prova de Teologia Sistemática. Creio que em um concílio para ordenação, a mesma pergunta poderia ser colocada em termos menos técnicos, a fim de não confundir o candidato. Todo pastor deveria saber bem a esse respeito, uma vez que esta união se operou no Senhor Jesus, em sua encarnação. O termo grego, no entanto, só foi usado muito mais tarde, na segunda metade do V Século dC. União hipostática é, pois, a união das naturezas divina e humana na Pessoa do Senhor Jesus. A doutrina foi elaborada em Alexandria
[1], por volta do ano 451 dC, e, posteriormente, aceita em Calcedônia
[2].
Hipostático (gr.
υποστασις hypóstasis) significa essência, substância, realidade. O termo é usado em Hebreus 1.3, no genitivo singular
υποστασεως hypostáseos, e vertido para o português “do seu Ser”; poderia ser também “da sua essência”. Há versões que preferem “da sua pessoa”. O texto refere a Jesus, em relação a Deus o Pai, e afirma: “Sendo ele o resplendor da sua glória e a expressa imagem do seu Ser (hypostáseos)”. Jesus é, portanto, resplendor da glória do Pai e imagem exata do Ser do Pai (Hb 1.3a, VR-IBB)
[3]. Literalmente, a mesma essência do Pai.
Os líderes religiosos daqueles dias ficaram em polvorosa com esta declaração de Jesus: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10.30, VR/IBB). Diga-se de passagem, os comentaristas em geral afirmam que a união referida nesse texto não é metafísica de ser ou mesmo mística, mas, antes, de interesses e propósitos. Contudo, é interessante notar que, por causa de tal afirmação, eles o quiseram matar: “Os judeus pegaram então outra vez em pedras para o apedrejar. Disse-lhes Jesus: Muitas obras boas da parte de meu Pai vos tenho mostrado; por qual destas obras ides apedrejar-me? Responderam-lhe os judeus: Não é por nenhuma obra boa que vamos apedrejar-te, mas por blasfêmia; e porque, sendo tu homem, te fazes Deus” (Jo 10.31-33, VR/IBB). Em outro texto: “Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque ... também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus” (Jo 5.18, VRA/SBB)
[4].
Jesus Cristo é Deus-Homem, a Bíblia ensina ampla e claramente isto. Nele há duas naturezas: Uma divina, porque é perfeitamente Deus, e outra humana, porque é perfeitamente homem (Mt 1.23; Lc 1.35; Jo 1.1,14; Gl 4.4). Observe o que foi afirmado acima, nos versículos que se seguem, extraídos do prólogo do quarto evangelho (VR/IBB; grifos adicionados):
- “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (Jo 1.1). Como Segunda Pessoa da Trindade Santíssima, Jesus Cristo é Deus desde a eternidade; aquele cujos “anos jamais terão fim” (Hb 1.12, VRA/SBB). Muitos textos, ao longo das Escrituras, atestam a deidade do Senhor Jesus. Por exemplo: “E nós estamos naquele que é verdadeiro, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1Jo 5.20, VR/IBB). Jesus é Deus.
- “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14a, VR/IBB). Gerado pelo Espírito Santo, no ventre da virgem Maria, o Filho Eterno de Deus se fez homem. Jesus Cristo é Homem desde a encarnação, que uniu sua Pessoa divina à natureza humana. Muitos textos, ao longo das Escrituras, atestam também a humanidade do Senhor Jesus. Por exemplo: “Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1Tm 2.5, VRA/SBB). Jesus é homem.
Finalmente, transcrevo parte do artigo sobre Deus-Filho, extraído da Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira (grifos adicionados)
[5]: “Jesus Cristo,
um em essência com o Pai, é o eterno Filho de Deus. Nele, por ele e para ele, foram criadas todas as coisas. Na plenitude dos tempos ele
se fez carne, na pessoa real e histórica de Jesus Cristo, gerado pelo Espírito Santo e nascido da virgem Maria, sendo, em sua pessoa,
verdadeiro Deus e verdadeiro homem”. Jesus é Deus-Homem. Isto é união hipostática.
Pedro Moura
Copyright MPPM. Não é permitida a reprodução sem autorização por escrito do autor
[1] Alexandria, no Egito.
[2] Concílio de Calcedônia (451dC). Calcedônia, cidade da Bitínia, na Ásia Menor.
[3] VR-IBB Versão Almeida Revisada/Imprensa Bíblica Brasileira
[4] Versão Revista e Atualizada/Sociedade Bíblica do Brasil.
[5] Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira - JUERP